Rio, 15 de agosto de 2004.
Daniela Name
A bandeira da cidade tem golfinhos azuis, um barrete vermelho e um brasão amarelo, mas o prefeito Cesar Maia escolheu o laranja para representar o município. Candidato à reeleição pelo PFL, ele pintou com a cor a logomarca da Prefeitura e o uniforme das escolas municipais. O laranja está ainda nos tapumes das obras iniciadas — e nem sempre concluídas — em sua gestão e em lugares de grande visibilidade, como o arco da Praça da Apoteose, o Terreirão do Samba e o Centro Administrativo da Prefeitura, na Cidade Nova.
Para os outros candidatos a prefeito, Cesar está plantando o laranjal pela cidade para colher mais votos. Com a cor, estaria usando a marca do município para chamar atenção. Ele se defende: alega que o laranja é uma homenagem aos garis e uma tentativa de dar unidade às instituições da cidade.
Embora diga que o laranja é a cor que sempre esteve associada ao município, Cesar passou a usá-la exaustivamente a partir de 2003, quando sapecou uma enorme faixa com a nova logomarca no topo do Centro Administrativo. Os uniformes dos alunos da rede pública só foram mudados no início deste ano, na mesma época em que as escolas ganharam totens na forma de um lápis laranja na entrada.
— Há 30 anos o uniforme do gari é laranja e tem a palavra “Prefeitura” gravado — diz Cesar. — Apenas o transformamos, por extensão, na marca de toda a administração. Buscamos unidade visual, como em qualquer organização.
O cromoterapeuta Rodolfo Correa Lima acredita que o prefeito estava bem assessorado na hora de escolher o laranja para marcar sua gestão. A cor, segundo ele, estimula o consumo e a concentração:
— As embalagens de comida e bebida usam as cores quentes, que são o amarelo,o vermelho e o laranja para fazer com nos sintamos atraídos por aqueles produtos — diz ele. — Além de estimular o consumo, o laranja é um poderoso aliado da memória e da concentração. Cesar está marcando seus feitos para os eleitores, que compram suas idéias.
O designer Nei Caramês explica as propriedades da cor quando usada na paisagem:
— Facilita a visibilidade, mas não cansa, como o vermelho. É agradável e quente.
Casaco e brincadeiras com a cor durante a campanha
Mesmo sem saber os poderes do laranja, Jandira Feghali, candidata do PCdoB à prefeitura, diz que a mudança de uniforme das escolas municipais, além de propaganda, é um perigo:
— A camiseta não tem mais o nome da escola e a criança ficou sem identificação. O que vai acontecer se ela se perder?
Já Jorge Bittar, candidato do PT, acha que os tapumes laranjas aumentaram muito:
— É a cidade da propaganda, virtual, que não tem nada a ver com a cidade real.
Cesar classifica as críticas de bobagens. No entanto, no dia-a-dia de campanha, não abre mão de associar o laranja à sua imagem. Seus outdoors e panfletos misturam a cor ao azul e ao branco. No corpo-a-corpo com os eleitores, um de seus figurinos prediletos é um casaco esportivo... laranja, é claro. Durante campanha na manhã de ontem no Jockey Club, Cesar, com seu inseparável casaco laranja, conversou com jóqueis e antigos funcionários do clube, além de brincar com os cavalos.
Ele também usa com freqüência uma caneta laranja com detalhes prateados reluzentes, no melhor estilo Comlurb.
Em Inhaúma, pediu uma água mineral gasosa cuja logomarca tem frisos alaranjados nas laterais.
COLABORARAM Paula Autran e Elenilce Bottari.